O Cairo é uma cidade para ver em três ou quatro dias. Nem o viajante mais entusiasmado precisa ficar mais tempo aqui. O motivo? Depois desse período, o Cairo mais decepciona que surpreende.
Por causa da revolução e das eleições, achamos que o clima não era o mais propício para sair por aí, por conta própria. Mas depois de quase um mês, chegamos à conclusão que com ou sem primavera árabe, o Cairo é o mesmo, o Egito é o mesmo, as pessoas são as mesmas. Na prática, nada mudou. E se voltarmos ao Cairo daqui 50 anos, pouca coisa terá mudado.
A cidade não é perigosa (exceto pelos reflexos da revolução), mas também não é confortável. Por isso, um tour personalizado com motorista foi a melhor opção. E será a melhor opção enquanto a situação política não se estabilizar, enquanto os taxis não forem regulamentados, enquanto leis de trânsito não forem implementadas e cumpridas, enquanto a corrupção desenfreada afetar até os turistas.
A Astra Travel foi recomendada por uma amiga egípcia. E não podemos reclamar: a agência foi séria, pontual e flexível. Mandei uma lista com os lugares que queríamos visitar e a Sara (e-mail: selgendy@astratravel.com) sugeriu os trajetos.
O valor ficou muito abaixo do padrão “turista torrando dinheiro no Egito”. O preço inicial era bom, mas eu quis testar minha capacidade de negociação. Sugeri US$75,00 (450EGP) por pessoa e recebi um “with pleasure” como resposta. Dois dias de tour exclusivo (das 9h às 17h), van com motorista nos esperando na porta do hotel, guia e todos os tickets inclusos (exceto a sala das múmias no Museu Egípcio e a entrada da grande pirâmide, que são opcionais). Para você ter uma ideia, apenas os tickets custam US$38 (230EGP).
E é possível “vivenciar” a cidade através da janela do carro? Não se preocupe! O Cairo é tão intenso que as impressões chegarão até você. Inevitavelmente.
Uma voltinha já ensina muita coisa. Semáforo aqui é raridade. Em compensação, sobra buzina. O tempo todo. Ao invés de dar seta, buzine! Ao invés de pisar no freio, buzine! As avenidas são amplas, mas uma faixa é inutilizável por causa da areia e do lixo. E a maioria das casas e prédios está inacabada. Culpa de uma lei que determina que apenas construções finalizadas pagam impostos. Se as fachadas estão arrumadas, os fundos têm tijolos e canos aparentes. Assim ninguém paga imposto.
É preciso manter o foco na parte boa: história, muita história! E alguns dos monumentos mais grandiosos do mundo.
– Pirâmide de Djoser em Saqqara
Na manhã de sexta (o dia sagrado do Islam – os fins de semana no Oriente Médio são às sextas e sábados) fomos à Saqqara. A “step pyramid” (pirâmide de degraus) foi construída pelo arquiteto, médico, poeta, filósofo, astrônomo, mágico e primeiro-ministro (o cara era multi uso!) Imhotep, a pedido do faraó Djoser em 2.600 a.C. Na verdade, não é exatamente uma pirâmide, mas a primeira tentativa de construir uma estrutura no formato. E por isso é tão interessante.
Saqqara não é tão movimentada quanto Gizé, então não se afaste muito nem tente desbravar todos os lados da pirâmide. É fácil fugir dos vendedores com respostas secas e antipatia (todo mundo aprende), mas não da polícia turística, famosa por coagir os turistas e exigir dinheiro.
Não aceite ajuda, não peça informações ou entregue sua câmera fotográfica para uma inocente foto. Eu já tinha lido sobre o assunto (as informações foram úteis e por isso repasso) e fiquei ligada. Não chegamos nem perto da pirâmide e mesmo assim, um policial assobiou, fez sinal com a mão (pedindo que parássemos) e veio em nossa direção. Fingimos não entender e apertamos o passo, porque ele certamente pediria dinheiro para nos liberar.
Na bilheteria de Gizé, ao passarmos pelo detector de metais, um outro policial queria 150EGP para permitir que entrássemos com a câmera e o tripé. Extorsão deslavada! Retrucamos e o policial recuou.
– Fábrica de papiro
A intenção das fábricas é vender papiro, o tataravô do papel. Porém, aprender sobre o processo de fabricação (de graça) e tomar uma água geladinha (de graça) foi legal e levou apenas dez minutos. Há várias fábricas a caminho de Gizé e os guias ganham comissão. Se quiser comprar, não aceite o preço inicial. Negocie até cansar.
– Pirâmides de Dashur
Dashur está a 10km de Saqqara. A Pirâmide Torta foi um teste, a transição entre as pirâmides de degraus e as pirâmides de linhas retas.
A Pirâmide Vermelha é a primeira pirâmide propriamente dita (com 43º – o mesmo ângulo do topo da Pirâmide Torta). Ambas foram construídas por Sneferu – o pai de Quéops – durante a IV dinastia. Nós vimos apenas de longe, mas deveríamos ter ido até Dashur.
– Pirâmides de Gizé (ou Guiza)
As Pirâmides de Gizé são impressionantes, o highlight de qualquer viagem ao Egito.
Quéops, Quéfren e Miquerinos eram, respectivamente, pai, filho e neto. Contando com Sneferu, quatro gerações de faraós se dedicaram à construção das pirâmides.
A maior delas – Quéops – é formada por 2,3 milhões de blocos de pedra, com peso médio de 2,5 toneladas cada. Como foram transportados e empilhados, realmente é um mistério. Ainda mais há 4.500 anos.
A área é enorme e é bem cansativo caminhar de uma pirâmide à outra debaixo do sol escaldante. Vá preparado!
O aluguel de cavalos, camelos e burricos custa poucas libras, mas lembre-se que os animais são extremamente maltratados (principalmente os burricos e os cavalos) e que só tem oferta porque tem procura. Eu até entendo que os tratadores precisam colocar comida na mesa, mas nada justifica a crueldade.
– Esfinge
Esculpida com corpo de leão e cabeça de rei durante o reinado de Quéfren, a Esfinge simboliza força e sabedoria. Segundo a lenda, um soldado do exército de Napoleão acertou seu nariz ao praticar tiro de canhão. Porém gravuras mais antigas (que Napoleão) já mostravam a Esfinge deformada.
Perto das 14h (não paramos para o almoço) retornamos ao centro do Cairo, em direção ao Khan El-Khalili. Passamos pelo coração da cidade, a Tahir Square. E embora a Tahir não seja a praça mais bonita do mundo (longe disso), queria ter dado uma voltinha. Enquanto o primeiro presidente eleito não tomar posse, é melhor não arriscar.
– Khan El-Khalili
Chegamos ao Khan El-Khalili – o mercado egípcio – exatamente no horário da prece e a mesquita estava fervilhando. Ao contrário de outros lugares, nos permitiram ficar na porta lateral observando. Eu li muito sobre o islamismo (por curiosidade e para entender melhor a cultura dos países onde moraríamos quatro meses ininterruptamente), mas nunca tinha acompanhado a prece. Muita coisa fez sentido. Uma experiência diferente, sem dúvida.
Eu achei que o Khan El-Khalili seria parecido com o Grand Bazaar de Istambul, mas na realidade ele lembra o bairro muçulmano da Cidade Velha em Jerusalém.
Na hora de comprar, ofereça apenas 30% do valor inicial e não arrede o pé. O turismo diminuiu muito e os vendedores fazem qualquer negócio, literalmente. No mercado turco eu me encantei por uma lanterna e não comprei. Repeti a cena no Khan El-Khalili: queria uma caixa revestida com madrepérolas e desisti no último minuto pensando no peso da bagagem e se combinaria com a decoração da nossa futura casa. Confesso que não gostei de muita coisa, a intenção era passear. Objetivo cumprido!
Se a fome bater, procure o Nagib Mahfouz. É o restaurante mais “apresentável” do Khan El-Khalili. E não esqueça que o mercado é frequentado, em sua maioria, por homens. Roupas comportadas (eu fui de vestido longo de mangas compridas) e marido ao lado (o Will não saiu de perto um segundo) não repelem as piadinhas e os olhares indiscretos.
– Rio Nilo
A programação continuou ao entardecer, às margens do segundo maior rio do mundo. Uma viagem ao Egito não estará completa sem um jantar no Nilo. Há opções de restaurantes para todos os bolsos. O que eu mais gostei foi o Sequoia. O ambiente é ótimo, familiar e os preços são justos. Serve comida egípcia, japonesa e mediterrânea, além de bebidas alcoólicas e shisha. Quem gosta de sabores e texturas diferentes, não pode recusar a sobremesa: Um Ali – doce típico com massa de folheado, nozes e leite. Chegue um pouquinho mais cedo para garantir uma mesa e aproveite o pôr do sol.
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