Dois dias antes de deixarmos o Cairo, ocorreu uma manifestação – supostamente pacífica – a favor da democracia e contra a sentença que condenou o Mubarak. Embora o ex-presidente esteja quase batendo as botas, o povo não desistiu da pena capital. O Will precisou até sair mais cedo do escritório por causa da insegurança nas ruas.
Nossos colegas – munidos de suas bandeirinhas do Egito – contrariaram as recomendações e acompanharam de perto a manifestação, como se fosse uma atração turística. Loucura? Confesso que eu também fiquei com vontade de ir. No início é meio estranho conviver com a instabilidade (realidade tão diferente da que eu estava acostumada). Depois de um certo tempo, algumas coisas “absurdas” começam a parecer normais. Viajar amplia nossa forma de ver o mundo e as pessoas. Há 1 mês, eu sequer cogitaria sair do hotel. Há 10 dias, por muito pouco, eu não fui à Tahir Square para “apoiar” uma causa que nem é minha.
Mas antes de divagar sobre o assunto, preciso concluir o post “O que ver no Cairo?”. Começamos o segundo dia do tour no Museu Egípcio.
– Museu Egípcio
O museu voltou a receber visitantes alguns meses depois da revolução. Peças valiosíssimas (do ponto de vista histórico e do ponto de vista $$) integram o acervo e o “cordão humano” formado por civis infelizmente não protegeu o museu de todos os atos de vandalismo. Logicamente, a primeira pergunta que fizemos à guia foi: qual o tamanho do prejuízo?
O inventário realizado após o quebra-quebra concluiu que 650 peças foram saqueadas, mas nenhuma de grande relevância (embora até peças “irrelevantes” valham uma fortuna no mercado paralelo). A máscara mortuária de Tutancâmon – o maior atrativo do museu, verdadeira obra de arte – bem como outras peças em ouro maciço, estão em seus devidos lugares.
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É proibido entrar com câmeras e celulares (talvez para que o mundo não perceba que o museu está jogado às traças, inclusive o sistema de segurança). Há lockers gratuitos na bilheteria, mas ficamos desconfiados após os incidentes com a polícia turística nas pirâmides. Por precaução, deixamos a câmera na van e o motorista cuidou dos nossos pertences.
Entramos com a missão de absorver todas as informações e imagens possíveis. Não esperávamos um museu com padrão europeu, mas também não imaginávamos que o descaso (ou a corrupção) do Ministério da Cultura fosse tanto. Inaugurado em 1902, o museu parou no tempo. Muitas peças estão amontoadas e espanador é artigo de luxo. Mesmo assim, gostamos muito. É um dos melhores museus que já visitei. Se eu tivesse que escolher apenas dois lugares para ver no Cairo, iria às pirâmides de Gizé e ao Museu Egípcio, sem titubear.
No primeiro andar, em sentido horário, as peças estão expostas em ordem cronológica. Um guia faz muita diferença. Sem ele, é difícil entender os hieróglifos, as características de cada período, a importância de cada faraó. O segundo andar é dedicado, essencialmente, aos tesouros de Tutancâmon (imperdível!) e às múmias.
Para ver as múmias é necessário pagar 100EGP a mais. Elas não são um colírio para os olhos (são múmias, né?), mas eu achei que valeu a pena. O processo de mumificação era um caso à parte, mais uma prova do alto nível de desenvolvimento da antiga civilização egípcia. Além disso, o Royal Mummies Hall aparenta ser a única parte do museu que é levada a sério. Temperatura controlada, manutenção, informações sobre a idade e a causa da morte de cada múmia.
Como quase todos os grupos turísticos fazem o mesmo roteiro no Cairo, o ideal é chegar cedo e ganhar alguns minutos de vantagem (o museu funciona diariamente das 9h às 19h e às sextas fecha durante o almoço). Nós ficamos quase 4h lá dentro e não sentimos o tempo passar.
Desde 2002 o governo promete a construção do “Grand Egyptian Museum”. Próximo às Pirâmides de Gizé, o novo museu custará quase um bilhão de dólares – capital japonês e doações – e terá espaço suficiente para expor todas as peças do acervo. Deveria ter sido inaugurado em 2010. Após a revolução e sem Mubarak, estima-se que será aberto ao público apenas em 2015. Tomara!
– Citadela e Cairo Islâmico
Saindo do museu, fomos à Citadela de Salah Al-Din, sede do governo egípcio por quase 700 anos. Embora tenha alguns museus (eu não quis entrar), os principais atrativos são os terraços, a estrutura da Citadela em si (cerca por muros) e a mesquita Mohammed Ali, também conhecida como Alabaster Mosque.
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Mohamed Ali é considerado o fundador do Egito moderno. Em meados do séc. XIX, ele ordenou que a mesquita fosse construída em memória de seu filho mais velho. Com traços arquitetônicos turcos e painéis de alabastro, a mesquita é exceção no Cairo e talvez por isso seja a mais visitada pelos turistas. No pátio externo, a torre exibe um grande relógio de bronze. O rei Louis Philippe I – o último rei da França – teria presenteado Mohamed Ali com o relógio, para retribuir o Obelisco (que até hoje está na Place de La Concorde, em Paris).
Na escola, as criancinhas egípcias aprendem outra versão da história: o obelisco não foi um presente, tampouco os franceses pediram permissão para retirá-lo de Luxor. Também é sabido que os ponteiros do relógio nunca se moveram. Tire suas conclusões…
– Velho Cairo (Cairo Islâmico & Cóptico)
Encerramos o tour no Velho Cairo, uma das regiões mais populosas e pobres da cidade, onde o islamismo e o cristianismo se misturam.
O cristianismo foi levado ao Egito (e à península do Sinai) por São Marcos no século I e, por isso, a Igreja Cóptica é considerada a primeira igreja cristã do mundo. Após a conquista árabe, grande parte da população se converteu ao islamismo e atualmente apenas 11% dos egípcios declaram-se cristãos.
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O Cairo Cóptico compreende o Museu Cóptico, as ruínas da fortaleza romana e muitas igrejas. Duas são especialmente famosas (principalmente entre os turistas cristãos): a Igreja Suspensa (Hanging Church), cujos pilares da fortaleza sustentam a nave principal; e a Igreja de São Sérgio, construída sobre o local onde supostamente a Sagrada Família (Jesus, Maria e José) se escondeu ao fugir da perseguição de Herodes.
No Cairo Islâmico, vale a pena observar a arquitetura das casas e da mesquita de Ibn Tulun (a maior do Cairo), com seu minarete em espiral.
E também é possível visitar a sinagoga Ben Ezra que, embora não seja utilizada há mais de 60 anos, simboliza o local onde Moisés foi encontrado quando era bebê, dentro de um cesto.
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